Seagul
Originally written in English. Translated by mrit.
Quero partilhar a bela história da minha amizade com a Aisha, uma amiga por correspondência do Slowly. Tenho pensado em partilhá-la com o Slowly e expressar a minha gratidão e apreço pela aplicação que me deu múltiplas oportunidades de me ligar ao mundo, especialmente às pessoas do outro lado da fronteira.
É uma ironia como existe tanta rivalidade entre a Índia e o Paquistão, tanto histórica como religiosa, mas ainda assim temos almas bonitas, honestas e bondosas a viver em ambos os lados.
Encontrei a Aisha através de uma pesquisa manual, a descrição do seu perfil levou-me a escrever-lhe e a tentar estabelecer uma amizade. Quando escrevi a Aisha, ela respondeu-me e começámos a conversar. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que trocámos os nossos números de telefone e a Aisha perguntou-me por que razão havia de confiar em mim. Respondi-lhe que não nos encontrámos por sorte, mas porque o destino quis que nos encontrássemos.
Começámos uma grande amizade e, embora tivéssemos os nossos números no WhatsApp, gostávamos de esperar pelas cartas uma da outra, pois eram muito atenciosas, francas e honestas.
Descobri que ela teve um casamento curto em que um acidente horrível tirou a vida ao marido. Depois disso, foi condenada ao confinamento em casa dos pais durante três meses, sem ter com quem falar. Contou-me que queria mudar de vida, ir para o Canadá, seguir um programa de investigação, mas as probabilidades eram contrárias à sua vontade. Estava envolvida numa amarga batalha legal com os seus sogros. Disse-lhe que a ajudaria a planear a candidatura, as cartas de referência, os exames e os preparativos.
Lentamente, começámos a trabalhar nisso, peça por peça. Havia dias em que ela perdia a esperança, ficava triste, mas eu continuava a levantar-lhe o moral, prometendo-lhe que estava lá para ela. Uns dias ela cantava e enviava-me uma gravação, outros dias esperava que eu escrevesse.
Na primeira tentativa, o seu pedido de visto foi rejeitado e ela ficou destroçada. Encorajei-a a candidatar-se de novo, a pedir uma reconsideração. Trabalhámos meticulosamente no seu pedido, todas as outras comunicações eram feitas por correio eletrónico, mas quando tínhamos de conversar, só escrevíamos cartas lentas.
Depois, ela começou a ocupar-se das suas candidaturas e a frequência das cartas diminuiu lentamente para quase nada. Um dia, enquanto passeava em Singapura, recebi a mensagem dela, que estava a embarcar num voo para o Canadá. Tinha conseguido um visto para o Canadá. Fiquei absolutamente encantado, ela disse-me que queria informar-me antes de embarcar no voo.
Chegou ao Canadá e, em poucos meses de faculdade, pediu-me para ir para o Canadá, para começar um doutoramento na sua faculdade e para nos podermos encontrar. Passados mais alguns meses, ela encontrou o seu futuro marido entre os seus novos amigos e casou-se. Eu não sabia, mas como partilhámos uma grande ligação através do Slowly, a sua última comunicação não foi feita através do Slowly, mas sim por e-mail. Apenas duas linhas: “Estou casada e feliz. Espero que tudo esteja bem contigo, adeus!”
Há cerca de um ano, talvez mais, que não voltámos a falar. Provavelmente não há necessidade dessa última carta de despedida no Slowly porque foi onde começou uma bela amizade, onde pude mudar o destino de uma amiga recém-descoberta que não teria conhecido se não fosse pelas cartas do Slowly.
A amizade de Manav e Aisha, do outro lado da fronteira entre a Índia e o Paquistão, ser-me-á querida para sempre. Se alguma coisa pode começar e tornar-se uma história inspiradora, tem de acontecer no Slowly.
A história da amizade de Aisha e Manav.
Muito obrigado ao Slowly.
Manav